Síndrome de Borderline tem tratamento?
Olá pessoal!
Eu, Dr. Anibal Okamoto e a psicóloga, Glacy Calassa, iniciamos, alguns artigos sobre uma série abordagens sobre a Síndrome de Borderline.
Após um longo hiato, resolvemos fazer outro post. Anteriormente, falamos como a relação terapêutica e o vínculo com os profissionais são fundamentais para a continuidade e sucesso da recuperação.
Contudo, como tema final, vamos conversar a respeito do tratamento para Síndrome de Borderline suas particularidades.
Afinal, precisamos destacar quais são as opções disponíveis, a eficácia e a duração recomendada do tratamento, que pode variar de paciente para paciente.
Leia mais: O que é Transtorno Borderline?
Apesar da importância, esse ainda é um assunto cercado de mitos. Por isso, algumas perguntas que escutamos com frequência sobre a síndrome de Borderline, demonstram isso de forma clara:
“Descobri que tenho esse transtorno! E agora, tem cura?”
“Vou precisar tomar remédio pra sempre?”
“Mas eu não quero me tratar, vai dar tudo errado no final mesmo!”
“Eu não me corto, afinal, será que tenho isso mesmo?”
“O último psiquiatra me disse que eu sou bipolar, esse tratamento vai funcionar?”
“Não quero falar sobre os meus problemas e não gosto de terapia/psicólogo”
A seguir, responderemos essas perguntas. Permitam-me antes contar uma breve história.
Havia uma firme crença de que esse transtorno era crônico, refratário e intratável.
Muitos ainda julgavam que isso se devia a vários fatores como, por exemplo, a dificuldade de os profissionais manterem relacionamentos terapêuticos com esses pacientes, mas também a gravidade dos sintomas, além da natureza instável das emoções e comportamentos dos pacientes.
Dessa forma, não existiam bons estudos científicos sobre o tema. O resultado é que o diagnóstico era um tabu, quase uma sentença.
No entanto, a mudança veio na década de 80 e 90.
Com isso, alguns estudos observacionais mostraram resultados mais positivos, alguns pacientes de fato melhoraram.
Entretanto, o problema desses estudos era apenas o método. Foram estudos pequenos, observando os pacientes por pouco tempo.
Até que em 2010, publicaram um estudo chamado CLPS1 que acompanhou 175 pacientes com esse diagnóstico por 10 anos.
A conclusão principal foi que, a grande maioria deles (mais de 85%) haviam alcançado melhora nesse período.
Do mesmo modo, outro estudo, na mesma época, chamado MSAD2, que acompanhou 290 pacientes por cerca de 16 anos mostrou resultados comparáveis.
Contudo, não parou por aí. Vários outros pesquisadores conseguiram demonstrar a eficácia da psicoterapia, e que essa melhora era duradoura.
A primeira terapia com eficácia comprovada por estudos foi a Terapia Dialética Comportamental, criada pela psicóloga Marsha M. Linehan.3
Assim, outras abordagens também tiveram a efetividade documentada, como a Terapia Focada na Transferência, Terapia Baseada em Mentalização e a Terapia de Esquemas.
Porém, as duas terapias mais estudadas atualmente são: a Dialética Comportamental e a Focada na Transferência, baseadas na teoria comportamental e psicodinâmica, respectivamente.
Mas, só servem essas aí? Vocês podem me perguntar.
De fato, a resposta é não!
Contanto que o profissional seja habilitado para realizar o acompanhamento desse paciente, o tipo específico não precisa ser exatamente esse.
A priori, os estudos mostram que os pacientes, em sua grande maioria, precisam de pelo menos 1 ano de psicoterapia para ter uma melhora significativa.4.
Geralmente, o ideal é que a terapia dure de 1 a 3 anos, o equivalente a 70 – 120 sessões.
Esse acompanhamento pode ser individual, em grupo, em internação ou em regime aberto.
Assim também, devemos lembrar que se trata de um adoecimento complexo, muitas vezes, fruto de uma história de vida com traumas gravíssimos.
Em suma, a parte principal do tratamento é a psicoterapia. O uso de medicações psicotrópicas fica reservado para indicações bastante específicas, alguns sintomas e comorbidades.
Orientações importantes incluem: usar por período limitado de tempo; para sintomas específicos; evitar o uso de polifarmácia (mais de uma medicação); acompanhar se o paciente está tomando a medicação de forma adequada.
Espero que o texto tenha ajudado a esclarecer alguns pontos do tratamento.
Se vocês gostaram, curtam e compartilhem!
Aníbal Okamoto Médico — CRM-DF 17813 Glacy Calassa Psicóloga – CRP 01/16290 Referências: 1. Gunderson, J. G. (2011). Ten-Year Course of Borderline Personality Disorder. Archives of General Psychiatry, 68(8), 827. doi:10.1001/archgenpsychiatry.2011.37 2. Mary C. Zanarini, Frances R. Frankenburg, John Hennen, D. Bradford Reich, Kenneth R. Silk, (2005). The McLean Study of Adult Development (MSAD): Overview and Implications of the First Six Years of Prospective Follow-Up. Journal of Personality Disorders: Vol.19,October,pp.505-523. https://doi.org/10.1521/pedi.2005.19.5.505 3. Linehan, MM, Armstrong, HE, Suarez, A., Allmon, D, & Heard, HL (1991). Cognitive-behavioral treatment of chronically parasuicidal borderline patients. Archives of General Psychiatry, 48, 1060-1064. 4. Biskin RS. The Lifetime Course of Borderline Personality Disorder. Can J Psychiatry. 2015;60(7):303–308. doi:10.1177/070674371506000702