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Análise Psicológica - Cisne Negro - Dr. Aníbal Okamoto

Análise Psicológica - Cisne Negro

Escrito por Doutor Anibal em 15 de maio de 2020

Análise psicológica do filme CISNE NEGRO, de Darren Aronofsky, escrita pela querida psicóloga, Eliane de Almeida. Psicoterapeuta há mais de 43 anos e criadora da Fórmula Psíquica©. Você pode conhecer mais sobre o trabalho dela no Instagram:  https://www.instagram.com/psicologaelianedealmeida/

ANÁLISE PSICOLÓGICA – CISNE NEGRO

Vivenciar poderia ser a palavra certa, para traduzir o impacto sensorial promovido pelas imagens e sons deste espetáculo.

Vivenciar nos lembra uma intimidade tal que nos confundimos com os personagens e seus significados.

Vivenciar de forma inebriante cada som e movimento em uníssono.  Reportando-nos  às nossas mais perturbadoras lembranças internas. Tornando vívido aquilo que queremos esconder, por não nos ser permitido.

Aqui estamos novamente de forma repetitiva e criativa deparando-nos com os conflitos básicos de nossa identidade. Somos seres duais. Estamos expostos e compelidos à dissociação psíquica e também física. Sujeitos à invasão criminosa dos padrões condicionados, que nos são impostos pelas expectativas parentais .

Todos nós temos guardados no âmbito de nossas mentes e almas, alem, é claro na memória de cada uma de nossas células, todas estas dores ao longo deste processo dissociativo.  Esse processo dissociativo  remete-nos  à  conflitos de identidade. Assim, divididos e adoecidos, perdemos a capacidade inata para a integração. Nestes conflitos de identidade, para integrar nossas partes separadas, somos lançados à uma árdua luta integrativa.

Nina, nossa personagem que reflete-nos como num espelho, revive para cada um de nós, nossa luta interna em prol  da integração.  Luta  para salvar um EU partido. Cindido pelas polarizações, simbolizadas pelo cisne branco e pelo cisne negro.

Novamente, as polarizações máximas separadas em pólos opostos e colocadas na tela com intensidade ambígua,  convida-nos como que num sonho quase que acordados a vivenciar eletrizados cada passo de Nina em seus prodigiosos : cisne branco e cisne negro. Cabe ao seu personagem A RAINHA DOS CISNES, a suprema vivência da integração. Porém a dança desta integração requer de sua dançarina a completude. A união dos dois cisnes, em todas as suas complexidades opostas. Nina, no entanto, sofre as dores do seu EU partido.

O cisne branco já vem envolto numa fragilidade, pureza, ingenuidade e feminilidade sensível e afetiva.  Revela o bem, a luz. A Música e os movimentos são de uma delicadeza profunda de alma. Uma presença tênue, diáfana, quase que imperceptível, como numa dança transcendente de nossas almas. Nossos olhos e corações dançam juntos aqueles movimentos em uníssono, com o que há de mais belo em nossos interiores.  Um êxtase envolvido por sensações e prazeres íntimos, quase que divinizados.

Esta é a faceta polarizada que lhe foi concedida por sua mãe. A frase “A doce e meiga NINA”, reforça no seu consciente toda a perversa maldição apreendida na infância, pelo seu inconsciente.  Sua mãe projeta sua parte negada e quebrada, o cisne branco em toda a sua dimensão, no EU de Nina. Esta por sua vez a introjeta de forma quase que maciça quebrando em uma dolorosa divisão, seu EU interior. Ela expressa este conflito que a adoece, com vários sintomas: bulimia;  síndrome de despersonalização e desrealização; estado regressivo; comportamento compulsivo com auto-mutilação. Ela se auto-mutila numa tentativa de sentir seu EU, pois este, encontra-se  escondido, exilado em seu íntimo, e fora de sua percepção sensorial. Há uma foto  de Nina vestida de cisne branco com o rosto partido, ilustrando este conflito de forma magistral. Ela parece uma boneca, desumanizada,  com o rosto de porcelana partido, explicitando visualmente o EU partido.

Nina, adoecida pela divisão, que promove um corte sangrento em sua identidade, encontra dificuldades para incorporar seu oposto, o cisne negro. Este oposto lhe foi negado, pois sua mãe como dona desta outra metade da identidade o vivencia na sua forma mais trágica e angustiante. Ela dá vida à seu lado sombra(os instintos mais sombrios da humanidade), tentando colocá-los em tela para personificá-los e vivenciá-los. Vivencia-o também, em seu papel de mãe, ao não permitir que sua filha cresça e a supere.

O cisne negro personifica o lado negro da humanidade. Aquele que todos nós não assumimos e, portanto, queremos ocultar. Ocultamos por temer e desconhecer sua força. Este lado instintivo revela o mal, a sombra. A expressão agressiva dos impulsos, a sexualidade aflorada, os prazeres da carne, a gratificação dos desejos e  a encarnação da força malévola. Temos tanta força neste lado que a tememos. Fugimos desta força como o diabo foge da cruz.

Está descrito o cenário em que Nina, nossa personagem e espelho, irá travar sua luta sem igual em prol da integração. É uma luta de extremos. Tudo pode acontecer neste vácuo  entre o bem e o mal. As imagens mostram de forma  poética esta luta: plumas pretas que surgem em meio à uma tela inundada de plumas brancas. O preto aparece de forma delicada, depois de forma mais presente, e numa dança de plumas elas entrelaçam-se.

Para Nina não será tão poética assim sua luta. Ela precisará mergulhar nas trevas. Mergulhar nos instintos. Mergulhar em sua força oculta e temida. Assim, terá  que experimentar os extremos. Precisará sair de seus rituais de auto-mutilação para vivências desconhecidas. É neste clima que Nina conhece experiências extra sensoriais. Passa da realidade para o delírio. Seu chão não é mais contínuo e real. Sua mente projeta experiências polarizadas dos instintos. Precisa ir fundo, cada vez mais fundo, na sua capacidade de luta. Ir fundo nos seus instintos e experimentar o proibido. Sexo, drogas, competição astuta e brutal para defender seu papel(seu EU partido). Em seu camarim, testa sua força ao máximo ao projetar que para salvar-se teria que matar. E mata! E assim possuída de sua totalidade integrada pode sair, incorporar e  dançar o cisne negro. Uma dança que em sua magia contagiante nos inebria com a metamorfose de Nina em cisne negro. Uma experiência sensorial onde dançamos e incorporamos este cisne negro em nossa pele também, tal qual Nina. Tatuamos em nossa pele nossos instintos sombrios e deles nos revestimos. Agora somos sombra e luz. Agora somos  a força de um EU integrado tal como Nina.  Para ela, o preço desta integração foi sofrer realmente no físico uma dor dilacerante, o vidro em seu ventre. Seu sangue jorrando literalmente. No psíquico a dor da dissociação, da quebra do EU, que a levou quase à loucura.

Metamorfose e mudança implicam em ultrapassar limites.  Desafios do desconhecido, que pressupõem dor física e psíquica. Por isso, tememos lutar. Nina lutou por todos nós. Ela venceu. Venceu por todos nós. Assim ficamos com seu convite para as nossas próprias lutas. E o reforço do seu sucesso para o nosso sucesso. Incorporemos Nina em nós. Nós e Nina. Uma força única rumo à nossa luta integrativa e ao nosso  sucesso.

PSICÓLOGA ELIANE DE ALMEIDA

CRP – 0832-01

Email – elianealmeida@brturbo.com.br

CRM-DF 17.813
Acredita na importância da escuta acolhedora, do vínculo e da confiança como fios condutores do processo terapêutico.

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